Nos anos 60, um casal amigo que me hospedava em Atenas, me
convidou a participar de um jantar previsto antes de minha chegada. A nata da
sociedade grega. À minha esquerda uma mulher deslumbrante de beleza e elegância,
sem contar o colar de safiras. Elisa, esposa de Basil Goulandris. De que
conversamos? Banalidades, como sempre neste tipo de encontro. As praias do Algarve, o último concerto de Yehudi Menuhin, um museu em Madri...
No dia
seguinte, durante o café da manhã, meus anfitriões me falaram de Elisa. Um
conto de fadas. O Basil, que, com Onassis e Niarchos, formava o trio dos
grandes armadores gregos, costumava cortar o cabelo e fazer as unhas sempre na
mesma barbearia. Um dia, quem tratou de suas mãos foi uma linda jovem recém
contratada. “ An Athenian beauty” informa o Google. Paixão à primeira vista.
Para encurtar a narrativa, antes de casar, Basil chamou professores de francês,
inglês e boas maneiras.
Modelar a bela era preciso.
Além dos frequentes
encontros com altezas, banqueiros e ministros de vários países, nada de pânico
ao enfrentar três garfos, três facas, duas colheres e outros tantos copos.
Casaram com toda pompa e, doando uma coleção de U$3 bilhões, fizeram um robusto
Museu de Arte Contemporânea. Mas esta senhora não era somente bela e sortuda.
Tinha classe. Não aquela que precisa de nariz empinado, brilhantes pesados e
roupa de grife aparente. Algo muito mais difícil, quase impossível de aprender:
uma forma natural de sorrir, de se deslocar em qualquer ambiente sem “se achar”,
de falar a coisa certa no momento oportuno.
Se, durante os primeiros anos em Salvador, tive a fraqueza de ser colunável, raríssimas foram as vezes que encontrei quem tivesse a gentileza e a simplicidade que somente certa intuição, mais que educação, sabe dar. Mas encontrei, mais tarde e bem perto de minha casa. Meu amigo Bernard era freguês de uma barbearia no Barbalho (perdoem o trocadilho). Certo dia pediu para fazer as unhas. Apareceu uma jovem, discreta, um pouco tímida talvez... O namoro durou uns dois anos, até que fizeram a coisa certa: casaram. Sem pompas nem fogos de artifício. Hoje, produtora de cinema, acostumada à ponte aérea Salvador / Paris / Nova-Iorque, Gel nunca volta com malas abarrotadas de compras. Ela me impressiona com frequência. Suas maneiras à mesa, seu olhar certeiro ao escolher uma roupa... Quando convidados ao festival de cinema de Cannes, no último momento teve que comprar um vestido comprido, exigência dos organizadores. Saiu do hotel, entrou em duas ou três boutiques e comprou sem mais demora um longo e sóbrio bege realçando sua pele morena. Sem bordados, paetês ou dourados. Gel poderia ter sentado sem problema na mesma mesa que o casal Goulandris.
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