CAFÉ PRETO
DOS SENHORES DE ENGENHO AOS FAZENDEIROS DO EUCALIPTO
A marisqueira e quilombola M. G. , 68 anos, senhora forte, mãos calejadas da lida na roça e pés cortados de pisar em ostras, acorda em sua pequena casa de taipa, onde criou sozinha suas duas filhas e onde morou sua mãe, a sua avó e ainda sua bisavó.
Em seu fogão a lenha, ajeita uma pequena ruma de madeiras secas de mangue e as acende pacientemente à medida que põe um caneco de metal cheio d’água para ferver.
Enquanto prepara o café preto de todo dia, percebe o ronco diferente de motores que se aproximam. Lentamente, vai até a soleira da porta e dá um bom dia a todos os mais de dez homens que a olham com desprezo de seus carros.
São quatro camionetes prateadas que cercam a sua casa às cinco da manhã. O que a casa da senhora faz aqui? – pergunta um deles.
Cenas assim são comuns no Recôncavo, onde a monocultura do eucalipto invadiu de forma violenta os territórios tradicionais, expulsando quilombolas e extrativistas de suas terras e gerando danos graves à saúde, ao meio ambiente e aos modos de vida destas populações. Mas o que se vê nas propagandas oficiais é o slogan “negócios sustentáveis de florestas plantadas”.
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