sábado, 2 de dezembro de 2017

MUITO MAIS QUE OVO FRITO!


Amanhã, chegará ao fim a brilhante iniciativa da teatróloga Aninha Franco, conseguindo despertar o Pelourinho, parte icônica do centro histórico de Salvador. Lamento geral: a paupérrima divulgação do evento pela Propeg e a TVBahia. Aquela produção visual com ovo frito.... Quanto custou a brincadeira?

Durante dois meses, domingo sim, domingo não, os restaurantes se comprometeram a realizar uma ou mais receitas do excepcional intelectual e artista que foi o negro Manuel Querino. A maioria dos chefes e cozinheiros desconhecia até o nome. Guto Lago, do Villa-Bahia, já familiarizado também com as obras de Câmara Cascudo, Hildegardes Vianna e Darwin Brandão, sendo a exceção. Alguém chegou a pedir o telefone do tal “Quirino”.

A feijoada do Cuco

No princípio, dezenove estabelecimentos se inscreveram. Nem todos, porém, seguiriam a rigor as regras do jogo. Um recusou preparar a moqueca sem leite de coco, outros usaram ingredientes inexistentes no século XIX. No terceiro domingo, já se definia quem realmente aceitara as condições. Os baianos, não só antropólogos, professores da Ufba e estudiosos, atraídos pela proposta, souberam prestigiar quem levou a proposta a sério. 

Dino Brasil interpretou Caymmi

Sob a direção de Rita Assemany, curtas intervenções de cunho teatral e musical ilustraram de forma lúdica e criativa os almoços, confirmando o destino cultural do bairro. Todos os envolvidos foram escolhidos entre o que a Bahia tem de melhor. Como deveria citar todos... preferiria não citar ninguém. No entanto devo declarar minha desmedida admiração por uma participante que, sem ser atriz, soube encher os espaços: Mónica Millet, neta de Menininha do Gantois. Sua forte presença me lembrou a grande Ana Magnani.

Uma boa ideia: concertos nas igrejas

Outra ideia muito bem-vinda foi a de abrir a igreja de São Francisco para baianos e turistas assistirem a concertos de música erudita. Único senão, os rebanhos de fotógrafos e jornalistas da prefeitura e os adictos do celular, sem o mínimo respeito pelo público. Quanto à programação, teria preferido que se limitasse, sem ufanismo, a autores brasileiros. De Carlos Gomes a Paulo Costa Lima a lista é longa. É essencial a criação de um público cativo. Por que sempre cairmos nos eternos chavões – como o Bolero, Carmen etc. – quando temos a possibilidade de revelar e prestigiar nossos compositores?

O Ângelo Rafael indicou a direção certa com a linda peça de Alberto Nepomuceno. Antes de terminar, achei os dois concertos de jazz – Alô Charlie Parker e Miles Davis! - barulhentos e nada adequados ao barroquismo exacerbado do templo.

Resta parabenizar todos os responsáveis pelo evento. Por causa dele, baianos e turistas vieram mais numerosos ao bairro mais sedutor de Salvador. Mas será que isto basta?

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