Amanhã,
chegará ao fim a brilhante iniciativa da teatróloga Aninha Franco, conseguindo
despertar o Pelourinho, parte icônica do centro histórico de Salvador. Lamento
geral: a paupérrima divulgação do evento pela Propeg e a TVBahia. Aquela
produção visual com ovo frito.... Quanto custou a brincadeira?
Durante dois
meses, domingo sim, domingo não, os restaurantes se comprometeram a realizar
uma ou mais receitas do excepcional intelectual e artista que foi o negro
Manuel Querino. A maioria dos chefes e cozinheiros desconhecia até o nome. Guto
Lago, do Villa-Bahia, já familiarizado também com as obras de Câmara Cascudo,
Hildegardes Vianna e Darwin Brandão, sendo a exceção. Alguém chegou a pedir o telefone
do tal “Quirino”.
A feijoada do Cuco
No princípio,
dezenove estabelecimentos se inscreveram. Nem todos, porém, seguiriam a rigor as
regras do jogo. Um recusou preparar a moqueca sem leite de coco, outros usaram
ingredientes inexistentes no século XIX. No terceiro domingo, já se definia
quem realmente aceitara as condições. Os baianos, não só antropólogos,
professores da Ufba e estudiosos, atraídos pela proposta, souberam prestigiar
quem levou a proposta a sério.
Dino Brasil interpretou Caymmi
Sob a direção de Rita Assemany, curtas
intervenções de cunho teatral e musical ilustraram de forma lúdica e criativa
os almoços, confirmando o destino cultural do bairro. Todos os envolvidos foram
escolhidos entre o que a Bahia tem de melhor. Como deveria citar todos... preferiria
não citar ninguém. No entanto devo declarar minha desmedida admiração por uma
participante que, sem ser atriz, soube encher os espaços: Mónica Millet, neta
de Menininha do Gantois. Sua forte presença me lembrou a grande Ana Magnani.
Uma boa ideia: concertos nas igrejas
Outra ideia muito
bem-vinda foi a de abrir a igreja de São Francisco para baianos e turistas
assistirem a concertos de música erudita. Único senão, os rebanhos de
fotógrafos e jornalistas da prefeitura e os adictos do celular, sem o mínimo
respeito pelo público. Quanto à programação, teria preferido que se limitasse,
sem ufanismo, a autores brasileiros. De Carlos Gomes a Paulo Costa Lima a lista
é longa. É essencial a criação de um público cativo. Por que sempre cairmos nos
eternos chavões – como o Bolero, Carmen etc. – quando temos a possibilidade de
revelar e prestigiar nossos compositores?
O Ângelo
Rafael indicou a direção certa com a linda peça de Alberto Nepomuceno. Antes de
terminar, achei os dois concertos de jazz – Alô Charlie Parker e Miles Davis! -
barulhentos e nada adequados ao barroquismo exacerbado do templo.
Resta
parabenizar todos os responsáveis pelo evento. Por causa dele, baianos e turistas
vieram mais numerosos ao bairro mais sedutor de Salvador. Mas será que isto
basta?
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